Adilson Barros e Julyana Travaglia
GLOBOESPORTE.COM
O ambiente era o melhor possível. Pacaembu lotado de torcedores otimistas, Robinho aparecendo para assistir ao duelo e dar uma força, Neymar querendo jogo. Só que o Cerro Porteño não veio a São Paulo para ser coadjuvante de um show santista. Marcando implacavelmente as saídas de bola do Peixe, os paraguaios prenderam os anfitriões no meio-campo. O Santos sentia demais a falta de um armador. Sem Ganso, machucado, Muricy Ramalho achou melhor deixar Alan Patrick no banco. Apostou em Elano para armar jogadas. O problema é que o camisa 8, preso no meio de uma multidão de camisas vermelhas, não conseguia prender a bola na frente, muito menos dar sequência nas jogadas.
O lado direito da defesa santista passou apuros, com lances equivocados de Pará, que jogou no lugar de Jonathan, lesionado. O técnico do Cerro, Leo Astrada, escalou o meia Torres bem aberto, quase como um ponta esquerda, dando trabalho para o ala santista. Pelo alto, os paraguaios ameaçavam em alguns lances. A situação era preocupante, mas o Santos tinha Neymar. Sorte de quem tem um jogador como ele. É craque e, como tal, não decepcionou. Jogador do improviso, da jogada inesperada, do drible improvável. Percebendo que o time não chegava, ele recuou e assumiu o papel de armador. Na verdade, se desdobrou para tentar fazer o que parecia impossível: armar e atacar ao mesmo tempo. Correndo, dando chapéus, apanhando, caindo, levantando, o prodígio alvinegro jogava por todos.
Aos 43, o astro recebeu pela esquerda, foi deixando marcadores para trás e cruzou da linha de fundo. Edu Dracena subiu mais do que todo mundo e cabeceou. Um gol chorado. A bola bateu no travessão e caiu centímetros além da linha fatal. Na sobra, Léo ainda empurrou novamente de cabeça para dentro, mas o gol já havia sido marcado. Um gol de Libertadores.
Perdendo o jogo, o Cerro se adiantou no segundo tempo, dando mais espaço para o Santos armar jogadas no meio de campo. Diferentemente do que aconteceu na etapa inicial, o Peixe tocava a bola no campo de ataque do adversário. No entanto, não conseguia invadir área paraguaia. Quando a bola chegava era para os pés de Zé Eduardo, que não dominava. Neymar buscava a aproximação, a tabela, mas o centroavante não correspondia. A cada jogada que errava, sentia o Pacaembu desmoronando em vaias sobre sua cabeça.
Maikon Leite entrou no lugar de Zé e a torcida mesclou gritos de comemoração com gritos de apoio ao atacante titular. Com Maikon, o Santos passou a ter dois jogadores abertos pelas pontas, trocando de posições. Elano chegava pelo meio. O Peixe tinha espaços e a bola, mas não acertava jogadas. Neymar insistia em lances individuais, tentando resolver novamente sozinho, sem sucesso. No último lance do jogo, Neymar fez boa jogada pela esquerda e cruzou ao meio da pequena área onde, completamente livre, Alan Patrick, que havia acabado de entrar no lugar de Elano, chutou fraco e em cima do goleiro Barreto. Ao fim, o Peixe venceu pelo placar mínimo e agora vai ao Paraguai tentando voltar à final da Libertadores após oito anos. Santos 1 x 0 Cerro Porteño(PAR).
Os alvinegros esperam que, no fim, esse desperdício de gols não faça falta. O jogo de volta será quarta que vem, às 21h50m (horário de Brasília), em Assunção, no Paraguai. O placar de 1 a 0 para os paraguaios levam a decisão aos pênaltis. Qualquer outra vitória do Cerro por um gol de diferença já favorece os brasileiros. Além disso, o Peixe joga por qualquer empate para se garantir na decisão do maior campeonato interclubes das Américas. A última vez foi em 2003, quando perdeu para o Boca Juniors.