Santo porco…
Julyana Travaglia
GLOBOESPORTE.COM
Foi uma noite de tensão, emoção, aflição e alívio no Pacaembu. A quinta-feira que estava programada para ser toda do velho “São Marcos”, ídolo palmeirense que comemorava 500 partidas pelo clube, também foi de outros dois santos; o torcedor conheceu “São Tadeu” e “São Marcos Assunção”.
O técnico Luiz Felipe Scolari não pode reclamar da torcida. Quem enfrentou a noite fria da capital paulista e compareceu ao Pacaembu empurrou o time do primeiro minuto até mesmo quando os jogadores já estavam nos vestiários para o intervalo. Mas a sincronia dos torcedores, que criaram um mosaico com o rosto de Marcos e o número 500 – alusivo à quantidade de jogos pelo clube – , demorou a aparecer em campo. Usando o mesmo time que venceu o Atlético-PR no último sábado, pelo Brasileiro, Felipão viu o Palmeiras nervoso. Embora tivesse a bola por mais tempo, a equipe não conseguia marcar. Foram raras as vezes em que o goleiro Marcos foi ameaçado. Apenas Viáfara trabalhava com intensidade.

A tensão atingiu também Scolari, que não parava de gesticular à beira do gramado. A aflição tinha motivo. Mesmo tendo a posse de bola, o Palmeiras não conseguia vencer Viáfara e a sua própria ansiedade por sentir que tinha que fazer logo um gol. Só nos acréscimos do primeiro tempo as sensações mudaram no Pacaembu. Da tensão, veio um alívio. Da precisão de um passe, veio a esperança. No toque certeiro de Marcos Assunção, um dos homens de confiança de Scolari, saiu o gol palmeirense. O passe foi para Tadeu, que só encobriu Viáfara e correu para o abraço, aos 47 minutos. Abraços no campo e nas arquibancadas. Aplausos de Felipão para seus comandados. Um toque de esperança para a classificação. Um terço da missão estava cumprida.

Para ter a missão completada com sucesso, o Palmeiras precisava de mais dois gols – 2 a 0 empataria a conta e levaria a disputa para os pênaltis. Mas o Vitória voltou disposto a não facilitar as coisas para os paulistas. Ex-dirigente do Alviverde, o técnico Toninho Cecílio, do rival baiano, tratou de adiantar seus jogadores para conter a euforia palmeirense. Assim, ele aproximou Thiago Humberto e Elkeson de Schwenck. Mas os baianos não contavam com uma lambança do colombiano Viáfara. Aos 12 minutos, o goleiro resolveu trocar as mãos pelos pés e complicou a vida do Vitória. Ele foi até a lateral de campo afastar o perigo e, inexplicavelmente, ficou prendendo a bola sob a marcação de Tadeu. Tocou para frente, no pé de Fabrício. O zagueiro pegou a sobra e viu Márcio Araújo livre pelo lado direito. O volante, improvisado na lateral, chutou cruzado e a bola sobrou para o próprio Tadeu marcar novamente: 2 a 0.

O volume de jogo palmeirense era muito superior ao do time baiano. Enquanto os paulistas já tinham dado 20 chutes em direção ao gol até os 35 minutos do segundo tempo, a equipe rubro-negra só havia arriscado em quatro oportunidades. No entanto, mesmo com o domínio, o terceiro gol, aquele que garantiria a classificação sem o nervosismo dos pênaltis, teimava em não sair. Conforme os ponteiros do relógio avançavam, o Vitória se mostrava satisfeito com a loteria das penalidades. Nas arquibancadas, as palmas se alternavam com os dedos cruzados. E nascia outro santo no Pacaembu, outro ‘santo’ chamado Marcos dos Santos Assunção (seu nome completo). Aos 43 minutos, o Palmeiras conseguiu uma falta na intermediária. Estava um pouco longe, mas o especialista Marcos Assunção secou a bola com a camisa, se concentrou e disparou a bomba! Impressionantemente, o que parecia impossível estava acontecendo. A bola entrou na chamada ‘forquilha’ e o Verdão marcava o terceiro que tanto precisava. O placar de 3 a 0 colocava o Alviverde na fase internacional da Sul-Americana. Festa nas arquibancadas. Era a noite de “São Tadeu” e “São Assunção” e claro, “São Marcos”. Palmeiras 3 (3) x (2) 0 Vitória.

Derrotado na primeira partida por 2 a 0, há uma semana, no Barradão, o time paulista conseguiu uma virada na base da raça, da garra e com o apoio de mais de 20 mil torcedores. O técnico Luiz Felipe Scolari provou que o espírito “copeiro” que o consagrou na primeira passagem pelo clube, ainda vive. O adversário do Palmeiras nas oitavas de final será U. de Sucre (BOL), Colo Colo (CHI) ou Cerro Porteño (PAR). O terceiro espera pelo confronto entre os dois primeiros.